domingo, 19 de julho de 2009

Aleatoriedade


Imprevisível como as coisas são. E como são.
Você pode dar partida em seu carro, rodar por umas poucas ruas e atropelar um cão ou pode ver uma linda garota, apaixonar-se e depois vê-la em uma festa ou não.
Pode ser que ache um bilhete premiado daquela loteria que você joga há décadas, esquecê-lo em um bolso de sua calça e desta forma sua esposa o lava e destrói a sua mudança de vida sem ao menos se dar conta.
Ainda babando você aos três anos de idade fica louco de felicidade porque quebrou o seu recorde de embaixadinhas e acaba nem rindo de seu amiguinho que deixou o sorvete cair.
É fantástico o modo como a adolescente frenética usa e abusa do que tem quando os pais a deixaram com uma tia ainda mais louca do que a sobrinha e tiveram que viajar de última hora. Maquiagem escandalosa, roupa bem decotada e salto quinze. O paquera dela acabou não saindo.
É curioso o modo ao qual um marmanjo joga para escanteio a cônjuge e tomando a enésima cerveja joga um vídeo game (de futebol é claro) enquanto aguarda o clássico do domingo. Se o time ganha bebe para comemorar, se perde bebe para afogar a tristeza ou para brigar. E não é que a televisão filha da p*ta para de funcionar no momento exato em que o jogo começaria.
Na pelada de sexta-feira, um feriado por sinal, você acerta um chute com mais ênfase e todos gritam: - Ta chutando bunda de vaca?!!!
E a bola acerta o pássaro, o pássaro acerta o chão, o pássaro entra em decomposição, formigas e urubus o devoram. Um jovem com uma espingarda, treinando a pontaria, acerta o urubu. O som do tiro atrai um policial que o leva para a delegacia por porte ilegal de arma. Ah! Ele também estava dirigindo sem habilitação. Tinha tomado algumas cervejas, mas essa já é outra história.
A esposa de bobs no cabelo e unhas esmaltadas a secar assiste a sua novela favorita, numa narração digna de locutores futebolísticos. O marido quase a cochilar no sofá apenas pena em sexo. Hoje, ainda, será?
Batem palmas lá do portão. São testemunhas de Jeová.
A mãe pede para o filhinho, de apenas seis anos, dizer que não tem ninguém em casa além dele, e ele diz:
- Minha mãe falô, pra mim falah, qui, qui num tem ninguém im casa.
Eles balançam a cabeça indignados e vão em direção a outra casa.
Do alto de uma montanha um teimoso praticante da arte da asa delta decide realizar um vôo em um dia em que o clima não ajudava. No clímax da adrenalina um raio o acerta e o leva desta para uma melhor.
O filósofo procura respostas, o religioso as têm, o agnóstico não sabe de nada, a dona de casa ( -fica queto que eu quero ver o fim da novela) tem o seu mundinho particular, os jovens são loucos e as crianças são o futuro, a esperança de ser tudo o que não fomos e fazer o que é certo ao passo que nós fizemos tudo errado. Todos querem ser crianças mas na verdade são mudanças ambulantes destinadas a um dia não ser nada. Enquanto tudo fica mais velho os museus apenas querem ser berçários ou melhor ainda jardins de infância fadados a uma eterna adolescência.
O advogado ambicioso fuma o seu cigarro e em meio a sua ambigüidade e senso intelectual se indaga:
- Aquele sujeito foi brilhante, mas porque foi dizer que Ele está morto?!
As ruas escondem muitas coisas ao mesmo tempo em que escancaram outras.
O empresário de um poder aquisitivo mediano decide reservar uma noite de sexta-feira para ir com os amigos a um bairro de prostíbulos. E para a sua surpresa quem é que ele encontra lá, quem, quem?
Sua filha, que ele não via há mais de dois anos e nem sabia mais se estava viva ou morta.
Ela estava viva, mas pelo ofício que escolhera para ele estava morta.
Morta para ele mas muito viva para a avó que era a única parente que aquela garota, uma ovelha desgarrada, insistia em visitar. A avó ficava feliz e ria muito com as brincadeiras da neta que sempre a visitava naquele triste asilo ao qual a família a destinara.
O garoto que jogava bola cresceu e agora já tinha vinte e poucos anos e em uma festa (rave) marcada por muitas coisas censuradas conhece uma garota que indo contra o bom senso passa o seu telefone.
Ele para não parecer que está muito afim espera alguns dias para telefonar. Liga mas ela não atende.
Na farra, chega a uma casa da luz vermelha e lá está ela. Começam a namorar e ela abandona aquela vida.
Ele se torna o apaixonado por futebol que é casado com a fanática por novelas.
Concebem dois filhos, a adolescente aloprada e o rapaz de um fim trágico praticante do esporte aéreo.
Um terceiro filho, adotado, recebia o mesmo amor que um filho biológico receberia e futuramente se tornaria um adolescente infrator que gosta de aproveitar a vida sem pensar muito nas conseqüências.
Eles mentem, atendem portas e portões. São adultos, homens, mulheres, idosos, jovens e crianças. Vivem um paradoxo.
Perguntam-se, se tudo tem um fim, qual é o fim do começo?
E lá vão eles, nascem, crescem, reproduzem e desaparecem.

3 comentários:

  1. Putz cara! 0.0

    Isso ficou muito bom!!(e vindo de mim você sabe o que significa).
    Você tinha comentado uma vez, mas eu ja tinha esquecido.
    Quando me dei conta no desfecho final, do que estava havendo, até arrepiei! xD
    Muito mió de bão!! xD

    Continue escrevendo!

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