domingo, 27 de setembro de 2009

Sim, Cronicidade



Gostava e por que não dizer que ainda gosta de sua nova vida. Recém formada em um curso de direito de uma grande universidade; já era uma advogada de sucesso, tinha um futuro promissor, se tudo corresse como planejado acabaria conseguindo um cargo na promotoria e algum dia certamente seria uma grande juíza.
Naquele sábado deixou de ir à praia para ficar em casa descansando e ler um pouco para aprimorar os seus conhecimentos. Era um dia muito frio e de qualquer forma não faria muito sentido ir à praia.
Estava absorta em seus pensamentos e se fosse possível não pensar em nada ela certamente estaria fazendo isso. Neste momento veio algo em mente, decidiu ligar para um amigo de infância com quem nunca havia perdido contato, um grande amigo que em certa ocasião havia sido algo mais.
Dirigiu-se ao telefone e quando ia tirá-lo do gancho ele tocou e ao atender ela recebeu uma notícia desagradável, terrível. Um amigo em comum acabara de dizer que a pessoa que ela havido pensado a pouco faleceu em um acidente automobilístico, pior ainda, morreu no dia em que iria se casar.
Não teve palavras, apenas desligou o telefone sem dar explicação alguma ou despedir-se e a pessoa que estava do outro lado da linha certamente compreendeu perfeitamente.
Ficou atônita, sem reação alguma e por mais estranho que pareça a única coisa que conseguiu pensar a seguir foi em uma música que eles gostavam muito e que falava sobre a chuva, apenas falava sobre a chuva e neste instante começou a cair uma forte chuva.
Era como se o céu estivesse chorando aquela perda.
Foi ao guarda roupa e procurou um casaco e quando ia vesti-lo viu que em um de seus bolsos havia uma foto deles dois e decidiu escolher outro que na hora não percebeu, mas na verdade havia sido um presente dado por ele.
Entrou em seu carro, deu partida e saiu. A placa do seu carro era CRY1408; Cry significa chorar e catorze do agosto era precisamente era a data daquele terrível dia que eles viviam.
Chegou ao velório às oito horas da manhã e naquele momento havia treze pessoas naquele local, com ela seriam catorze.
Lagrimas molhavam o seu rosto e o das demais pessoas do mesmo modo como a chuva molhava as ruas, casas e tudo mais.
Depois de um tempo lembrou-se novamente da música e do tempo que era absurdamente apaixonada por ele e que durante um tempo viveu a ilusão de que poderia ter uma vida a dois e quem sabe poderiam até chegar ao matrimônio.
E neste momento a noiva dele adentrou o recinto e ela por mais que houvesse gostado dele e o admirado muito, viu que não mais poderia ficar ali.
Saiu sem falar nada e não olhou para ninguém que estivesse naquela sala.
Entrou no seu carro e saiu dirigindo a esmo, sem pensar em muita coisa, apenas concentrada no trânsito e num momento de distração bateu o carro no mesmo local que ele havia sofrido o acidente e ficou inconsciente, foi levada para um hospital e acordou às catorze horas e oito minutos daquele mesmo dia, não houve nenhuma complicação. Porém ficou em observação por algum tempo. Às duas horas e dezesseis minutos acordou, mas logo voltou a dormir.
Depois de percorrer catorze quarteirões e oito casas chegou a sua residência, preparou um café, sentou-se em uma poltrona e ficou fitando o infinito.
Depois de catorze anos e oito meses contava aquela história a sua filha que escutava tudo atentamente. Em maio, uma história de agosto.

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